terça-feira, 30 de novembro de 2010

Citereia

Acordo toda manhã
Só para olhá-la ao meu lado.
Teu segredo foi fatal...
Dilacera os meus dias
Desejando as manhãs.
Não nego sua beleza durante o dia,
Mas são nas manhãs que meu corpo e minha mente reapaixona, reapaixona, reapaixona.
Quem diria eu ser prisioneiro da beleza de uma mulher?
Um boêmio aventureiro
Preso à egoístas devaneios.
Jamais imaginei amar somente uma. E que uma...
Seu cabelo desalinhado,
Armado levemente como um felino arrepiado
É contornado pelo sol que reflete meu olhar

A melhor parte é que posso tocá-lo, acariciá-lo 
Policiando-me para não alterar a forma original.
Os olhos semi cerrados traz todas as cores do mar:
O esverdeado aquoso das águas mais puras;
O azul intenso refletido ao céu limpo;
Entretanto, o cinza áspero e angelicalmente malicioso das tempestades litorâneas.
Ah... Esse olhar que me seduz.
No início, nas primeiras manhãs, assustava-me. 
Todos aqueles tecidos gregos envoltos na Vênus mais bela dos reinos.
Sua boca, seca, avermelhada escondia o sabor da manhã que insistia em beijar-me.
Jamais teria forças para, um dia, afastá-la.
Sua pele em cor homogênea e pálida trazia a perfeição e o mistério das esculturas mitológicas
Exceto pela temperatura: Ao invés de gelada e petrificada é quente e convidativa.
Vejo-me diante daquele corpo,
Que nunca serei o dono.
Contudo, o fado que serve é em demasia satisfatório.
Sua assaz sutileza serve como uma droga, um vício
De tê-la e vê-la por todos os dias que a lua partir e trazer o sol
O meu sol
Tão belo, tão vivo, tão quente, tão dela...
Tão quadrado. 

Oscar Bernardes

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Feriado

Solidão.
Essa é a farda que me serve.
Um destino enfadonho e frívolo
que não contempla igualdades.
Sozinha:
Como uma melodia que toca ao som de uma boca alheia.
Tão alheia e quase imperceptível
onde os gritos de socorro não são ouvidos
pois são aceitos.
Visto o que me serve
e assim sigo só. Só e tão só.
Como um destino manifesto fincado em minh'alma,
Como um diamante errante na mão de uma viúva amarga.
Vejo o som que nunca cala.
Ouço o cheiro que me cheira.
É quieto. É curto. É longe.
Estou, não estou?
Sou, não sou?
Sei lá. Quem sabe?
Hoje: sozinha.
Amanhã serei eu com o ser Sozinha.
E assim incessantemente:
Sozinha e eu,
Eu sozinha.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Galanteio;

Anseio louco que vara a mente,
Palavras túrgidas que saem dela.
Entre a insanidade e o desespero
Quase posso ver
O grito que se esconde na noite:
Áspero, negro e amargo
Que cala os olhos em um breve
Sussurro bravo que impõe a malícia
Ou suspiro longo que lamenta o medo.
Meche. Implora. Prende.
Não reage aos anseios ludibriantes
Que enganam os movimentos.
O desejo do fim não é tão sedutor
Quanto a promessa de tentativa.
Luxúria plena: Irresponsável-Responsável.
Interpretação vã que não amplifica razões.
Intuito desperdiçado pela conquista alheia.
Relação quebrada. Futuro misterioso
No íngreme caminho
Que cansa os olhos em um breve
Arfar de pensamentos.