terça-feira, 31 de agosto de 2010

.Manhã de Sol.

Ele se estica, espreguiça como um urso acordando de um sono mensal. Envolve o corpo por entre os lençóis púrpuros que compõe um jogo de serenidade e simplicidade. Os olhos como querem abrir, o nariz já podendo sentir o aroma de um novo dia, e o azul já pode ser visto. Eu ali parada querendo somente observar a magia que existe nos detalhes corriqueiros que passam despercebidos, normalmente. Mas ali, era o mais importante, o mais inacreditável, o mais apaixonante. Os dedos dele, inseguros, decorreram sobre a superfície do meu rosto num espaço dos olhos até a boca, descendo levemente até a minha mão, onde segurou forte, tão forte que parecia um gigante ao lado de uma formiga. Naquele momento era a pele na pele que demonstrava a intensidade que circulava por entre os corpos. Os olhos nos olhos misturavam as cores mais diversas formando um arco-íris de sensações que podia explicar e interpretar qualquer sentimento que existisse de um pelo outro.
De repente, pude perceber que nós somos muito mais do que aparentamos ser, encaramos uma desavença do destino que só nos fortificou a cada dia mantendo-nos unidos e amarrados por um laço invisível e estável. Estávamos ali, um de frente para o outro, o mundo todo girando ao redor, mas não importava, todo o necessário estava presente, estava completo.
Ele me toca. Eu sinto. Ele me observa. Eu fecho os olhos. Eu posso perceber que o olhar dele corre por todo meu corpo, não um olhar faminto e selvagem, um olhar digno e puro.  Percebo que todo o romance não pode ser mais do que amor. Amor. Amor. Retoma uma pintura renascentista ou uma expressão modernista. Elusivo. Ilusão. Verdade. E para quem diz que palavras em formas de texto não despertam todos os sentidos, enganou-se. Palavras bem ditas, bem direcionadas podem retomar a presença e fazer um instante virar infinito. E é assim que funciona o nosso romance romântico, palavras narram. Nós escrevemos. Nosso destino, nós escrevemos. Serei inteira por ele. Porque aqueles lábios que tocam meus cabelos são os lábios que eu quero que toquem os meus por todo o sempre. Tenho que ser inteira. Serei. Vejo a exatidão e a complexidade do ente à minha frente. Ruborizo. Satisfaço-me. Estou completa.  Estou amando.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

pedaço*

"...Foi quando pude perceber que nada mudaria o fato de que mesmo antes de conhecer-te, amava-te loucamente, e é isso que eu amo quando te amo, a sua constância perdurada ao meu ser..."

domingo, 8 de agosto de 2010

Deslumbre frígido;


E é isso. A noite está fria. Aquele Homem se revira por entre as cobertas procurando um corpo quente que possa ater os arrepios gelados que fisgam seu corpo. Nada encontra. A dor que o toma não é somente aquela que a friagem causa, enrijecendo os músculos, é a dor do vazio, do nada, da falta.

Três dias atrás ainda poderia sentir o afago entre os braços, o calor extracorpóreo que acalma os nervos, a respiração quente e suave que trazia o sinal da vida. Resumia aquele momento em um devaneio eloqüente que trazia o sentido de tudo. A cada suspiro que ouvia podia também notar o ar dentro dos pulmões, o que lhe mantém vivo, o sustento.

A lembrança inócua ardia-o a todo o momento. Os fios áureos que caiam sobre a arcana esmeralda verde que brilhava na sua expressão, enamoravam o cérebro do Homem que frente àquela cena tão nívea, submetia a sua existência. Era tudo, era o centro, era a razão.

Por querer do destino ou por um simples acaso, todo o cerne estrutural foi-se junto ao sangue que escorria. Ela não estava mais ali. Seu corpo estava. Sua alma não. Havia partido pra uma melhor, ou como queiram definir todas as seitas religiosas, mas nada disso importava. O sentimento do amor quebrado, da falta de ar, da falta de motivo, isso importava, e nada explicava.

Ele relutou pra não cair nas presas agudas da dor, mas estava difícil. As coisas foram se perdendo e então ele se sentiu como um pássaro que teve suas asas cortadas. Ou como uma hiena isolada. Sem influência, sem alicerce.

Aquela noite era fria, trazia nela as lembranças que recatavam seus sentimentos. Os travesseiros por entre as curvas corporais não preenchiam o lugar que ali faltava. Ele chorou, chorou como uma criança que tem seu pedido negado, como um jovem cãozinho que passa uma noite na neve, chorou como um homem que perde sua mulher. E aquele Homem perdeu a Mulher. E aquela noite, estava fria.

...a little more.

'sou o antagonismo dentro de mim,
a dúvida mais cruel se resume a minha existência,
o paradoxo envolve os meus pensamentos
em devaneios e sentimentos'


'Do mundo, a falta chega.
Tira o sentido da presença.
Guarda a dor e o sentimento da ausência.'