domingo, 8 de agosto de 2010

Deslumbre frígido;


E é isso. A noite está fria. Aquele Homem se revira por entre as cobertas procurando um corpo quente que possa ater os arrepios gelados que fisgam seu corpo. Nada encontra. A dor que o toma não é somente aquela que a friagem causa, enrijecendo os músculos, é a dor do vazio, do nada, da falta.

Três dias atrás ainda poderia sentir o afago entre os braços, o calor extracorpóreo que acalma os nervos, a respiração quente e suave que trazia o sinal da vida. Resumia aquele momento em um devaneio eloqüente que trazia o sentido de tudo. A cada suspiro que ouvia podia também notar o ar dentro dos pulmões, o que lhe mantém vivo, o sustento.

A lembrança inócua ardia-o a todo o momento. Os fios áureos que caiam sobre a arcana esmeralda verde que brilhava na sua expressão, enamoravam o cérebro do Homem que frente àquela cena tão nívea, submetia a sua existência. Era tudo, era o centro, era a razão.

Por querer do destino ou por um simples acaso, todo o cerne estrutural foi-se junto ao sangue que escorria. Ela não estava mais ali. Seu corpo estava. Sua alma não. Havia partido pra uma melhor, ou como queiram definir todas as seitas religiosas, mas nada disso importava. O sentimento do amor quebrado, da falta de ar, da falta de motivo, isso importava, e nada explicava.

Ele relutou pra não cair nas presas agudas da dor, mas estava difícil. As coisas foram se perdendo e então ele se sentiu como um pássaro que teve suas asas cortadas. Ou como uma hiena isolada. Sem influência, sem alicerce.

Aquela noite era fria, trazia nela as lembranças que recatavam seus sentimentos. Os travesseiros por entre as curvas corporais não preenchiam o lugar que ali faltava. Ele chorou, chorou como uma criança que tem seu pedido negado, como um jovem cãozinho que passa uma noite na neve, chorou como um homem que perde sua mulher. E aquele Homem perdeu a Mulher. E aquela noite, estava fria.

2 comentários:

  1. você se saiu muito bem com essa nova característica na escrita, amor *-*

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  2. Nossa, gostei muito. Muito envolvente e consegui imaginar a cena perfeitamente...MUITO BOM!

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